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ASSESSORIA DE IMPRENSA 

 

ENTREVISTA MAURO TAGLIAFERRI 

 

 Do outro lado da moeda

Ao comemorar 21 anos de carreira, o jornalista  Mauro Tagliaferri, que teve passagens por várias emissoras de TV como repórter,  está agora diante de um novo desafio: atuar como assessor de imprensa na área de comunicação corporativa.

 

Por Leonardo Vallejo/Felipe Barbirato e Wagner Luiz Simão 

 

 

 

Com uma longa carreira como repórter, Mauro passou por emissoras conceituadas como Globo, SBT e Record.  Das muitas experiências no ramo, Mauro destacou-se pelo seu trabalho como correspondente internacional em Portugal, ainda pela Rede Record. Foram quatro anos morando na Europa, de onde trouxe consigo muita experiência. Além disso, Mauro também cobriu eventos de grande porte como olimpíadas e copa do mundo. Hoje ele trabalha no grupo Máquina como gestor e acredita que este é um dos maiores desafios de sua carreira: “O meu desafio é manter o olhar do jornalista, porque sei que isso poderá ajudar meus clientes no relacionamento com a mídia, mas ao mesmo tempo tenho que saber que não estou mais do lado neutro da reportagem, pois agora defendo meu cliente”.

 

Além de relatar sobre seus novos desafios como assessor de imprensa, Mauro dá a sua opinião sobre assuntos polêmicos. Quando questionado sobre uma suposta crise no jornalismo, ele afirma que os "profissionais da área estão esquecendo-se da reportagem que é a base estrutural do jornalismo e se preocupando apenas em divulgar suas opiniões". Ele revela ao POPI seu descontentamento em relação ao desfecho das manifestações de 2013 que, a seu ver, “um movimento se iniciava no país, mas por se tornar violento, estragou tudo”.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

POPI - É verdade que você viveu muitos desafios ao longo de sua carreira como repórter. Mas qual o maior desafio para você como assessor de imprensa?

MAURO TAGLIAFERRI - O meu maior desafio é manter o olhar do jornalista, porque sei que isso poderá ajudar meus clientes no relacionamento com a mídia, mas ao mesmo tempo tenho que saber que não estou mais do lado neutro da reportagem, agora defendo meu cliente.

 

POPI - Em sua opinião, o jornalista está exercendo o jornalismo mesmo quanto está atuando como assessor de imprensa?

MAURO TAGLIAFERRI - Para mim, assessoria de imprensa não é jornalismo, apesar de existirem muitos jornalistas que trabalham com assessoria. A partir do momento que você está assessorando alguém não dá para dizer que está fazendo jornalismo. O assessor de imprensa tem um papel importante de subsidiar o jornalista com informações, mas as informações que ele está levando são apenas um dos diversos lados da matéria. É o repórter que tem que ir atrás das informações de todos os lados. Vejo o assessor lidando com informação, com comunicação, e acho que ele tem que obedecer muitos dos princípios do jornalismo, mas não dá para dizer que ele está fazendo jornalismo; quem está fazendo jornalismo é o repórter.

 

POPI - Existe a idéia de que o jornalismo sofre uma crise, alguns jornalistas expõem opiniões, e não passam a notícia de forma correta. Você acredita que existe uma crise no jornalismo?

MAURO TAGLIAFERRI - Não vejo uma crise no jornalismo em si, o que existe é a crise em alguns setores e veículos de comunicação, e em muitos casos uma crise de gestão. Ela é causada por pessoas que não foram preparadas para gerenciar redações e ainda não se deram conta da revolução que aconteceu em termos de mídia e acabaram se perdendo.

Uma opinião bem formulada é parte do jornalismo, e não tenho nada contra isso. Mas o que está acontecendo é um “opinativismo” geral; as pessoas estão esquecendo a reportagem, que é a base de tudo, e estão dando apenas opiniões. Isso está virando um “achismo”. Hoje existe informação como nunca houve antes na história da humanidade, mas ao mesmo tempo as pessoas então ficando cada vez mais distantes de estarem bem informadas. Este é outro lado desta “crise”.

 

POPI - Quais os jogos e macetes que ocorrem na influência entre a mídia e a opinião pública?

MAURO TAGLIAFERRI - O jornalista e os meios de comunicação estão sujeitos à opinião pública. Mas vejo um enorme perigo nisso, que é você querer agradar o público o tempo todo. É quando começa uma “guerra por audiência”. Nela você vai alimentando o público com algo que você acha que ele gosta de ver, mas a responsabilidade do jornalista é mostrar aquilo que o público precisa ver e não só o que ele quer ver. Ninguém vai ser tolo de pensar que as empresas não precisam de um público e uma audiência ou mesmo vender publicidade, mas existe um limite para tudo. No facebook você curte diversas páginas para depois ver apenas aquilo que você gosta, mas não é assim com a imprensa. Não é porque você acha que o público gosta de ver sangue que você vai mostrar isso a ele o tempo todo, e é isso que tem acontecido.

É preciso perder um pouco desta ingenuidade de achar que os jornais, as televisões e as rádios estão no céu. Eles são empresas e precisam dar lucro. Esses veículos tem um dono que tem uma opinião.

 

POPI - O nosso trabalho está focado na opinião pública, como você pode sintetizar esse fator para a sua área? Na assessoria de imprensa, qual a importância que a opinião pública pode trazer?

MAURO TAGLIAFERRI - Preciso entender com quem estou falando, que mensagem vou emitir, e fazer com que ela tenha o efeito que quero. Mas, dizer que penso em opinião pública é algo genérico demais. O eficiente é mapear com quem é preciso falar, quem são os influenciadores e formadores de opinião, pois estes sim são os caras que vão passar a mensagem à frente, e assim talvez levá-la para a opinião pública.

 

 

 

 

POPI -Em relação aos temas e coberturas relacionados às manifestações de 2013, em sua opinião elas são válidas, e quais merecem a atenção da mídia? Você considera o brasileiro um cidadão politizado?

MAURO TAGLIAFERRI - Ninguém estava preparado para as manifestações, elas foram uma surpresa dentro de uma 'não-surpresa'. Havia uma insatisfação geral, todos sabiam disso, e a verdade é que as pessoas continuam insatisfeitas. As manifestações só não foram pra frente, pois elas se tornaram violentas, e isso infelizmente estragou tudo.

Já o brasileiro está cada vez menos politizado, os debates políticos são cada vez mais rasos, ninguém se interessa por política, e ninguém quer participar dela. Enquanto isso acontecer, os mesmos políticos vão continuar lá. A solução é simples, a gente vive numa democracia absolutamente consolidada, todos os representantes em cargos públicos e parlamentos eletivos foram escolhidos legitimamente pela sociedade. Ninguém está lá imposto ou porque um ditador o colocou lá, todos foram votados, então não podemos reclamar; temos que votar direito. Se você está insatisfeito, vai lá e se candidata. Eu queria que as manifestações gerassem uma vontade de participação política e de entrar no debate. A política é uma vocação, é servir a sociedade e não se servir. Não é atirando pedra em agência bancaria e em concessionária de carro importado vai fazer a diferença, e sim pela participação política. “Ah, mas o sistema que está aí não permite”, permite sim, monte um partido. Democracia não é achar que você tem direito de jogar pedra em vitrine; isso é autoritarismo.

 

POPI - Você acha que por trás destes manifestantes mascarados há alguma intenção política ou infiltração de algum partido para enfraquecer o movimento?

MAURO TAGLIAFERRI - É possível que sim, mas ninguém provou até o momento. Seria lamentável se isso fosse verdade. O fato é que, tendo infiltração ou não, esses caras acabaram com um movimento lindo que estava ocorrendo nesse país, eles são responsáveis por desmobilizar a população que estava externando suas insatisfações. Não havia nenhum discurso formado e nenhuma solução pronta, mas existia ali uma vontade de mudar que faz com que a história se movimente.

 

"Democracia não é achar que você tem direito de jogar pedra em vitrine; isso é autoritarismo "

 

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