top of page

WEBJORNALISMO

 

ENTREVISTA CAMILA MATTOSO

 

O futuro do jornalismo esportivo

 “ O jornalista hoje em dia tem que ser multi-plataforma. Se houver uma ‘porradaria’ no aeroporto, você tem que filmar”, diz Camila Mattoso

 

Por Nelson Coltro /João Ricardo Marcillo/Leonardo Vallejo

 

 

 

Em entrevista exclusiva ao POPI, a mais nova promessa do jornalismo esportivo brasileiro, a blogueira Camila Mattoso ,26, nos conta sobre o segmento de webjornalismo que está definitivamente consolidado no mercado de comunicação brasileiro.

Camila Mattoso começou sua carreira na Rádio Bandeirantes e comandou o blog ‘De Prima’, no Lancenet. Ganhou destaque e projeção nacional após ter feito um freelance como correspondente dos canais ESPN nas Olímpiadas de Londres e, recentemente, participou da cobertura da Copa do Mundo no Brasil. Inclusive, Camila rasgou elogios à estrutura dada pela FIFA aos jornalistas: “Foi incrível. A gente não teve problema com absolutamente nada”, afirmou Camila. Atualmente, ao lado de Marcus Alves, é responsável pelo blog ‘Dois Toques’, onde revela os bastidores do esporte. 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

              A repórter Camila Mattoso é vista como o futuro do jornalismo esportivo        (FOTO: Matheus Fossaluza Salvarani/Portal POPI )

 

 

POPI - Como surgiu a ideia do blog Dois Toques?

CAMILA MATTOSO - Quando cheguei na ESPN, eu ia fazer só matéria mesmo e não tinha espaço para notinhas, para coisas menos importantes, mas ao mesmo tempo,eram importantes. E aí, eu cheguei e sugeri isso,por outros motivos também. Porque quando você liga para apurar os fatos com alguém tem coisas que nem sempre cabem na matéria e é legal ter um lugar para escrever sobre isso. E o outro motivo, é que você conversa muito com repórteres daqui (ESPN)  que têm informações legais e que guardam pra eles, e assim, acabam falando uma vez no ar, mas não usam muito. Por exemplo, um repórter que cobre seleção e que tem muita informação a respeito do São Paulo, às vezes, sobra informação e o blog veio para suprir essa demanda. Essa foi a ideia de quando a gente montou.

 

 

 

 

 

 

 

 

"Em 1995, a Disney comprou a Capital Cities/ABC (até então, dona da maior parte da ESPN) por 19 bilhões de dólares e adquiriu 80% de ações sobre a marca ESPN." (FOTO: Matheus Fossaluza Salvarani/Portal POPI)

 

POPI - Como é sua rotina de trabalho? Você passa mais tempo dentro ou fora da redação?

CAMILA MATTOSO - Eu gosto muito de ficar na redação, porque você fala com um, com outro e fica sabendo o que está acontecendo em outros lugares, pois cada um avisa sobre algo. Enfim, eu gosto de ficar perto do meu trabalho.A chefia também ajuda, os outros repórteres estão do lado, então,eu gosto sempre de estar na redação.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

CAMILA MATTOSO - Minha rotina é muito de encontros, de cafés, almoços, esse tipo de coisa, de conversa mais informal. O pessoal até brinca que meu dia é 24 horas no telefone e minha rotina é praticamente essa, ainda mais com o whatsapp, que é outra cobertura que não acaba, é impressionante, muda completamente o jeito. Tem dia que eu chego aqui, a primeira coisa que faço é whatsapp, gosto de mandar vários, tipo umas quinze pessoas, e ai ao longo do dia foi conversando pelo telefone.Faço muito uso do whatsapp e telefone, são grandes fontes de informações. Esses são os que mais uso para apurar, e instagram também. Twitter acho muito bom para você ver o que as pessoas estão falando.

 

Existe um novo ramo ‘setor mídia instagram’. Instagram é sim, uma ferramenta importante hoje em dia. Ela gera notícias.

 

POPI - Web jornalismo é uma nova corrente do jornalismo que vem crescendo muito rapidamente. Você como blogueira/webjornalista entende que existe algum tipo de rejeição dos colegas de profissão das mídias tradicionais (tv, rádio e impresso)?

CAMILA MATTOSO - Não, eu acho que não. Acho que o que existe hoje é que na verdade todo mundo está virando webjornalista. Porque mesmo o cara da mídia tradicional, o cara da Folha de São Paulo, o cara do Estadão, o cara de todos os jornais, ele tem que fazer internet hoje. E o “Lance!” quando eu trabalhava lá, era isso. Antes era um jornal que fazia site, hoje já é um site que faz jornal. E essa mudança é muito importante. E os jornais já sabem que eles não podem deixar de publicar uma coisa pra guardar para o jornal, é muito difícil o cara conseguir fazer isso hoje, está cada vez mais raro.

Não tem preconceito, os caras da Folha às vezes até brincam falando que tem que fazer logo porque nós estamos aqui e podemos publicar a hora que quisermos. Mas o que existe hoje é isso, é cada vez mais a adequação dos jornais com a internet.

 

POPI - O jornalista de hoje tem que ser completo. Tem que tirar foto, ir para a redação, fazer a matéria, editar foto, é bem assim mesmo? Hoje em dia acontece assim?

CAMILA MATTOSO - É, eu acho que o cara tem que saber fazer tudo isso, o jornalista hoje em dia tem que ser multiplataforma. O “cara” está no aeroporto, vendo um debate, ele tem que ser rápido, pegar o celular dele, se houver uma “porradaria” no corredor tem que filmar, tem que fazer isso. Hoje ainda é um mérito isso, mas cada vez mais o cara tem que saber que ele vai sair na rua e vai precisar tirar foto, vai precisar gravar, vai precisar fazer tudo.

Agora, eu acho que a gente não pode invadir o espaço do outro. Uma coisa desse tipo, você tira a foto. Mas existe fotógrafo, existe cinegrafista, que tem que ser muito respeitado e tem que ser guardado no lugar deles. Porque eu posso pegar meu celular e fazer, mas eu não tenho o talento, a noção, a técnica que ele tem. Nem quero disputar com isso, não quero pegar a posição do cara. Mas eu tenho que registrar. Se não tiver ninguém ali comigo pra registrar, eu tenho que registrar.

 

POPI - Você encontra muita resistência da parte dos cartolas e seus assessores, para realizar as matérias do blog Dois Toques?

CAMILA MATTOSO - Tem uma resistência de quando você liga para saber algo nos bastidores e aí “ah, futebol é futebol, nosso time está jogando muito bem... O time ganhou ontem de 2x0 e ai você quer falar de quanto eu estou devendo”,  sabe essas coisas? Acontece. Existe sempre uma insistência por se tirar o foco da política “vão cobrir o futebol no campo”.Mas é legal ver que dirigente, jogador, eles gostam bastante de falar, mandam mensagem e que tudo o que interessa para eles é mais fácil deles falarem. Se não interessa fica nos bastidores.“Existe sempre uma insistência por se tirar o foco da política (dos clubes). ‘Vá cobrir futebol no campo’”

 

POPI - Em relação a exposição da seleção na Copa do Mundo, você entende que isso de fato ocorreu?

Então, o feedback que eu tive de quem cobriu a seleção, a questão da exposição não foi tão grande quanto poderia ter sido, por que muita gente fala que “a cada passo é uma foto no instagram”. Então quando se expõe assim na internet, “a gente meio que tem um setor chamado “mídia instagram”, que é você não curtir a foto, é você ficar olhando o instagram do cara, ver o que o cara fica fazendo. É bizarro mas é isso, principalmente para quem está a 40 dias dentro de uma copa do mundo. É no dia da folga você ter o conceito de não acompanhar o cara, seguir passos e etc, mas você fica ligado no instagram porque o cara pode estar encontrando alguém importante, com a namorada não sei onde, e isso ajuda para caramba, mais do que isso e aí tem o lado positivo também. Fui querer fazer uma matéria com o Maicon. Depois de um amistoso, ele estava em um churrasco em Miami, achei pelo instagram. Mesmo que a pessoas tenham apagado, eu tirei “print” e provei que ele estava lá. Então ao mesmo tempo que tem a parte idiota, tem o lado jornalístico mesmo. O instagram é sim uma ferramenta importante, ele gera notícias.

 

POPI - Qual é o feedback do público diante das suas matérias no nosso país, onde futebol e política são tratados como religião?

CAMILA MATTOSO - É muito curioso. Eu não tenho dúvida que o torcedor hoje gosta mais da parte mais boleira. Mas ele está se interessando cada vez mais por política. Aí quando você dá uma matéria de política do clube dele, por exemplo: “O São Paulo pode fechar com a Puma”. É uma parte que não é tão boleira, é um pouco, mas é uma parte mais de política, de bastidores, e como torcedor o cara se interessa muito, adora, acha muito legal, os compartilhamentos tem muito boa audiência.“Quanto é a divida do Andrés Sanchez, que ele pode até ser preso por um crime que ele cometeu, os corinthianos que odeiam o Andrés amam essa matéria, compartilham, os palmeirenses, os são paulinos, os santistas, os flamenguistas... “Agora, os corinthianos comentam na matéria “Você quer acabar com o maior time do Brasil” e essas coisas que eu já nem leio mais. Então tem isso, a política no futebol tem um pouco dessa guerra entre as torcidas. Mas o retorno é muito bom sim, especialmente coisas como saída de técnico. “Veja os bastidores da saída de Oswaldo de Oliveira”, isso “bomba”.O cuidado que você tem que ter é de ser sério no que você está fazendo e ao mesmo tempo tentar criar um título que atraia cliques. Fazer com que alguma notícia que as vezes não é tão legal, seja chamativa para que as pessoas leiam o que você está fazendo.A CBF por exemplo, a não ser que sejam coisas muito concretas, as pessoas não gostam de ler. “CBF trocou de diretor”, as pessoas nem se interessam.

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

 

"cara acha que você pode “dar mole” para ele, que você pode eventualmente sair com ele "

 

POPI- Em relaçao a opinião pública,quais são os impasses por ser mulher?Como voce assiste a esse debate?

CAMILA MATTOSO -E quanto a ser mulher é um negócio meio engraçado, no começo tinha muita resistência, demorava para entrar no assunto, ou as vezes, o “cara” começava a me cantar e eu falava que tinha filho e marido para despistar e não misturar essas coisas com trabalho, e não só no futebol, por isso tem que lidar com muitas situações.Eu tenho pouco contato com jogador, tenho mais contato com dirigente. Então falando da primeira vez quando você liga, o “cara” acha que você pode “dar mole” para ele, que você pode eventualmente sair com ele, e aí ao mesmo tempo que te interessa por que é uma pessoa com quem você precisa falar, você tem que saber que precisa cortar logo no começo, porque se você leva isso durante um ou dois meses, é impossível depois você cortar. Então você deve cortar no começo, e são coisas desse tipo, convites para jantar, e ai você diz que está trabalhando, que é casada, enfim, qualquer coisa que você fale que o cara entenda que não existe a menor possibilidade de qualquer outra coisa que não seja profissional.Acho que acontece muito mais fácil com mulher do que com homem, e aprendi a lidar muito bem com isso, não me sinto ofendida mas me incomoda muitas vezes, e assim, há até uma certa resistência no meio em que você age até por parte de colegas de outros lugares, que pensam e falam coisas a seu respeito, mas que é uma coisa que sei que preciso superar.”

 

 

 

 

LEIA MAIS NO POPI:

Redação ESPN                              As redações dos canais ESPN (frente) e ESPN Brasil (fundo) são praticamente juntas

(FOTO: Matheus Fossaluza Salvarani/Portal POPI)

  • Twitter Long Shadow
  • SoundCloud Long Shadow
  • Facebook Long Shadow
  • Ícone do App Instagram
  • YouTube clássico

Curta o making off da entrevista com a jornalista CAMILA MATTOSO nas nossas redes sociais

 TRABALHAMOS PARA VOCÊ

 

POPI

 

Postando as melhores opiniões e informações sobre o universo jornalistico e muito mais

 Curta os cases e mais opiniões nas nossas redes sociais através do nosso appl.

http://galeria.fabricadeaplicativos.com.br/popi#gsc.tab=0

"Mural de certificados e placas de homenagens, conquistas e parabenizações recebidas por equipes da ESPN

(FOTO: Matheus Fossaluza Salvarani/Portal POPI)

"Hall da Fama no corredor da ESPN tem marcas de mãos e pés de estrelas do esporte e do jornalismo esportivo

(FOTO: Matheus Fossaluza Salvarani/Portal POPI)

bottom of page